quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Leva-me de Volta ao Egipto, Moisés!

Olha para as alturas oh ser semelhante! Verás que somos semelhantes. Tu nasceste, eu também nasci. Tu cresceste, eu também cresci. Tu reproduziste, eu também reproduzi, respiras, eu também respiro. Tu morrerás, eu também morrerei. Não importa como cada um nasceu, cresceu, está a reproduzir e irá morrer. A verdade é que não sentimos a mesma coisa.

É verdade e acredita. O que tu sentes não é o mesmo que sinto. Tu nem sentes que os níveis de vida subiram. Claro, como é que sentirias que os preços do pão, de água, de electricidade, de transporte, de arroz, de farinha de milho, de feijão, de trigo, de gás de cozinha, de petróleo de iluminação, de tomate, de sal, de cebola, de óleo, etc, etc, já alcançaram o sol se vives a custa de meus impostos?!

Como saberias que o cidadão pacato está gradualmente a deixar de sobreviver e ruma lentamente e bem calado para a casa de defuntos se tu nem sabes pagar nem um tostão por tanto combustível que gastas nas viagens que fazes para fora do país, onde regularmente fazes as tuas compras?

Não estás preocupado, porque os preços também subiram no mercado internacional? Não acredito. Se não estás preocupado, deverias estar por uma razão muito simples: doravante não terás espaço para construíres teus hotéis, tuas lojas, teus apartamentos, porque tudo se transformará em cemitério desses cidadãos “pacíficos” que matas à fome. Deverias claro, porque em 2014 não terás ninguém para te doar voto. Os teus comparsas perfazem apenas um número insuficiente para te dar mordomias. Acho que sabes que eles são tão ociosos quanto tu!

Se eu soubesse que virar Moçambique era aumentar salário em 9% e elevar o nível geral de preços em 90% teria ficado em casa naquele dia 28 de Outubro de 2009. Sinceramente não sabia que, em virtude de receberes em dólar norte-americano e fazeres compras na Europa e nos Estados Unidos, virias a deixar o meu lindo metical a derrapar junto com o seu povo. Se eu soubesse teria feito tudo para não subires ao Monte Sinai.

És falso Moisés. Desde 1994 que me prometes a terra de Canã, mas nunca lá chego. Tiraste-me das mãos de Faraó com o compromisso de me levares para uma terra onde o mel e o leite abundam, porém o único maná de que tenho direito por tua imposição e petição é a miséria, fome, injustiça, pobreza.

O exército de Faraó quase me alcançava nas margens do Mar Vermelho, mas tu, usando a tua história e sua astúcia, evocando os fundadores desta Nação infernal, trouxeste-me nesta margem, onde a desgraça é meu pão de cada dia.

Agora, em vez de te preocupares com os níveis vergonhosos de inflação, estás entretido em prender e desprender os cidadãos inocentes que tentam lutar pelos seus direitos; ao invés de equipares a polícia e ajustares o salário que prometeste ajustar para estes teus guarda-costas, teces discursos enfadonhos de tudo estar bem na corporação, no exército de que és comandante-mor, incluindo com os desmobilizados de guerra, mesmo sabendo que o povo, diariamente, toma banho do sangue de seus filhos fieis barbaramente abatidos pelos ladrões – teus milicianos.

Por favor leva-me de volta ao Egipto! Lá sofria, mas comia, era obrigado a pegar em tijolos em brasa, mas com o estômago cheio. Leva-me de volta, porque liberdade com fome não é liberdade.