sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Meditações

Vós sois os tais mandatários e donos da nação. Nós somos os tais vassalos, pagadores de tributos e escadas para subirem ao monte Sinai. Lá em direcção ao Canã onde patos geram riquezas. Recordam-se quando beijavam os nossos rostos assoreados pelo suor nauseabundo? Acho que não. A vossa memória é curta ou ficaram amnésicos mal que sentaram no Sofá de pessoas dinâmicas que gozam a vida.
De tempo em tempo nos enganam. Mentem para nós. Prometem, desmentem e nos tornam crianças menos pensantes ou juntas de bois de tracção. Batem-nos e tornam-nos escravos. Trabalhamos para vós, vossos filhos, vossos netos, vossos bisnetos, vossas famílias…Somos eternos vagões de votos para alimentar os gostos. Detergentes nós somos para limpar vossas sanitas por onde passam os dejectos de iguarias mais especiais e internacionalmente padronizados pagos com a nossa força, oh nossos dirigentes!
Tudo fazem em nome de heroicismo, patriotismo, exorcismo da pobreza. Sois combatentes tenazes da nossa indigência absoluta e sintética, doutrinários de combate ao burocratismo, deixa- andar e corrupção. Sois mensageiros, apóstolos e evangelistas do imperialismo. Sim doutrinários da auto-estima. Sois verdadeiros catedráticos da teoria das necessidades básicas humanas de Maslow.
Heroicismo? Patriotismo? Combatentes da pobreza? Professors da auto-estima? Não corruptos? Um herói não destrói o país dele. Não compra pão fora do país diariamente. Não vende as Forças Armadas nem o seu património. Não envia seus filhos para estudarem em escolas de renome internacional na América nem na Europa. Não confia em consultores estrangeiros nem em firmas estrangeiras.
Patriotas são os que tudo fazem para engrandecer a pátria. Morrem pobres como o fizeram Samora, Mondlane, Simango, Gomane, Guambe, entre outros. Patriota não é abutre. Não é corrupto. É uma pessoa sensata, culta, com cultura de Estado. Conhece as cores da sua bandeira. Valoriza as instituições da sua pátria. Não insulta nem descasca as instituições públicas nacionais fora nem dentro do país. É homem com identidade única e nacionalista. Tem consciência da sua nação.
Combatentes da pobreza? Como se combate a pobreza em carros de luxo, em jantares de gala, em hotéis de vinte estrelas situados no meio de maioria sofrida sem água potável nem luz, nem medicamentos e com dúvida permanente de sobrevivência? Puro engano! Destruam as vossas casas de luxo, vossos condomínios, vossos prados e avionetas particulares e construíam bairros. Abram furos da água, edifiquem escolas e hospitais, construíam estradas…lembrem-se que não somos pobres, temos mentes empobrecidas pela ganância e exploração do homem pelo homem.
Querem recrutar-nos para a luta contra a corrupção? Estamos prontos a combater. Mas, saiam de frente generais ambiciosos, gananciosos, aves da rapina. Devolvam tudo quanto roubam e vão festejar nas cadeias. Lá vão ter o Prémio Milionário Mo Ibrahimo, porque este prémio só ganham os que a melhor liderança mostram em frente do silêncio do poder – aquilo que fazem e não nos dizem e aquilo que nos dizem e não fazem. E como a corrupção é uma componente deste silêncio, com certeza vão ganhar.
Dúvidas não temos de que sois Professors de auto-estima. Ontem ensinaram-nos o Marxismo – Lenismo. Nós aceitámos e pobres vulneráveis que somos, seguimos. Afinal era uma estratégia para falirem todas as empresas. Elas faliram, estamos no desemprego perpétuo e vós sois PCAs e accionistas de tudo quanto se chama empresa. Venderam tudo: casas, empresas, material de guerra, as Forças Armadas, a Polícia, as armas, os Serviços de Informação do Estado, igrejas, escolas, programas de ensino, hospitais, sistemas de saúde, a justiça, o sistema de justiça, e a nós todos. Venderam o território, a população e a soberania. Venderam o Estado. O nosso Estado está vendido em nome de combatentes da luta de libertação nacional, da luta pela democracia multipartidária, em nome do combate a pobreza absoluta, em nome da auto-estima.
Por isso, combatem a corrupção depositando rios e rios de dinheiro que desaguam no delta dos Bancos da Suiça; defendem a qualidade de ensino em Moçambique, enviando os vossos filhos às melhores escolas e universidades dos Estados Unidos da América e da Europa; concedem bolsas de estudo a vossa família, aos familiares e amigos, numa perspectiva nepotística; paradigma de salve-se quem poder, cada um por si, Deus para todos. É lição de igualdade de oportunidades que aprenderam na luta de libertação nacional e nas matas de Gorongosa quando lutavam pela democracia. É o tal propalado patriotismo e auto –estima com que nos bombardeiam nos vossos discursos repetitivos. São bases de um futuro melhor que nunca tivemos, não temos e nunca teremos. É a democracia multipartidária de que julgam serem pais. É este o ideal de Eduardo Mondlane, de Urias Simango, de Samora Machel, Kankomba, Muthemba, de Joana Simeão, de Padre Gwengere, de Leo Mila, de Paulo Gomane, Lázaro Nkavandame, Mataka, Gungunhane, Farlai, Khupula Muno, Matsangaíssa, Njunga, anónimos …., nossos verdadeiros heróis.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Meu Diário da Campanha

Desafio todas promessas eleitorais e ouso em chamá-las de irrealizáveis. Nego tudo quanto oiço e espero ver para crer. Não votarei porque conheci programa do Galo, da Perdiz, da Maçaroca, do Pangolim nem do Peru. Votarei porque lá tenho que ir votar mesmo não sabendo em que, em quem, porquê, para quê?
As promessas deles são iguais. Os desafios deles não se diferem. Os objectivos deles são idênticos. Prometem casas, emprego, água, hospitais, escolas, limpeza das cidades, medicamentos, créditos, estradas, pontes…todos têm a JUVENTUDE como desafio e aposta. O objectivo deles é comum: assaltar o Metical da 24 de Julho (Assembleia da República) e as mordomias da Ponta Vermelha (Palácio Presidencial).
No meu programa eleitoral esses políticos todos não merecem voto de ninguém porque apenas querem satisfazer os seus interesses em nome do povo. Todos eles deveriam saber que o povo é mais importante que os bons salários que auferem quando lá sobem, vivem e convivem até se esquecerem de quem lá os colocou: o povo. E no programa eleitoral esses precisam de uma lição: greve geral traduzida em abstenção geral. Ai eles vão aprender a prometer, no mínimo, o cobrável.
No meu programa eleitoral nenhum desses políticos explica quantas escolas vai construir, quantos poços vai abrir, quantos quilómetros de estradas vai construir; quantos hospitais, quantas escolas, quanto, quanto, quanto, quanto….Quantos jovens existem e quantas casas são necessárias para cada um deles morar condignamente em compensação do seu voto? Quantos camponeses existem e quantos tractores, quantas toneladas de fertilizantes, sementes e quantas alfaias agrícolas serão necessários para eles aumentarem a produção, combater a fome e a pobreza? Para agravar o meu desagrado não dizem como concretamente irão realizar tais promessas.
No meu MANIFESTO eleitoral não aceito tudo quanto me dizem ou oiço. Sobre a JUVENTUDE? Pura indignação! Jovem que sou não aceito ser instrumentalizado. Mas porque não encho essa Pátria Amada maioritariamente JOVEM e ela própria JOVEM dos seus TRINTA E TRÊS anos, que aos postos de votação afluam os jovens para irem decidir o seu futuro. Porém, um apelo: não se esqueçam que os que concorrem estão já a usufruir do seu futuro e, portanto, não pensam senão neles próprios. Nós devemos pensar em nós mesmos mudando o presente deles para moldarmos o nosso futuro.
Para fechar o meu MANIFESTO eleitoral afirmo: não vote em ninguém senão em si próprio e no seu futuro porque se política em si já é um mal, a democracia é seu veículo letal e venenosamente fatal. Em democracia o povo não é mais do que uma camisinha. Sim isso mesmo. Uma camisinha. Uma camisinha que é usada pelos políticos para manter uma relação sexual com o poder e que depois desta relação e todo prazer relacionado é atirada para a caixa de lixo ou enterrada, até ao próximo acto sexual. E o próximo acto sexual são as eleições da legislação seguinte ao acto eleitoral anterior. Sim, isso mesmo: Daqui a 5 anos.