terça-feira, 2 de dezembro de 2008

VITÓRIA DE BARACK OBAMA E A PERSPECTIVA DA POLÍTICA EXTERNA NORTE-AMERICANA

Introdução Caiu o pano do enigma sobre o sucessor de George W. Bush, o presidente dos Estados Unidos da América (EUA), e para a “felicidade”? dos americanos e do mundo, ganhou o Candidato mais preferido – Barack Hussein Obama.
A satisfação de uns tem a ver com a esperança de que Obama traz uma mensagem de mudança e esperança – tal é o caso dos americanos; para outros, os africanos, parece que a simpatia pelo Obama prende-se com o facto de ele ser um negro afro-americano, de um pai queniano e uma mãe americana.
Os europeus vêm em Obama uma figura receptiva e portanto um parceiro certo de cooperação para resolver os problemas do mundo, sobretudo a crise financeira internacional e o problema do aquecimento global no âmbito do Protocolo de Kyoto, bem como as relações comerciais no quadro da Organização Mundial do Comércio.
Os asiáticos, as razões podem ser divergentes: a China, o Japão, a Índia e os Tigres Asiáticos podem manifestar pelas mesmas razões que a Europa, o Afeganistão não espera muitas mudanças, senão a deterioração da sua situação político-militar; o Paquistão pode perder um parceiro estratégico muito fundamental na fortificação da sua política externa, reservando-se ao direito de um parceiro normal na luta contra o terrorismo internacional e contra os talibans. Por sua vez no Médio Oriente a situação é muito complicada. O Iraque espera livrar-se dos soldados norte-americanos do seu solo, mas nem todos os americanos estão interessados em fazê-lo pelas implicações que isso pode trazer à oferta de combustíveis à economia da superpotência e pela estabilidade política do próprio Iraque; a Palestina e o Israel vão repetir a História: negociações atrás de negociações para resolver o conflito bíblico, cujo fim só o Deus de Abraão, de Isaac, de Salomão, de David poderá resolver, e não um Obama do “amaldiçoado sangue africano” e da “cor do pecado”. De resto, vamos reflectir sobre o que virá a ser a política externa da Administração Obama nos próximos quatro anos.
Política externa: conceito, instrumentos e factores
A política externa pode ser entendido como um conjunto de objectivos políticos de um estado para outro estado, ou seja objectivos políticos que um determinado Estado pretende alcançar nas suas relações com os demais países do mundo.
Normalmente a política externa procura proteger os interesses nacionais de um país, em especial sua segurança nacional, prosperidade económica e valores e prestígio. A consecução de tais objectivos pode ser obtida por meios pacíficos (cooperação internacional) ou violentos (agressão, guerra, exploração) e como regra a política externa é definida pelo Chefe de Estado/Governo, com o auxílio do ministro de negócios estrangeiros e supervisionado, em alguns casos, pelo poder legislativo (Parlamento)[i].
Desta forma, vamos analisar/perspectivar o conjunto de objectivos políticos que a futura Administração Obama perseguirá na arena externa, com vista a proteger os interesses nacionais dos Estados Unidos, em especial sua segurança nacional, sua prosperidade económica e valores (o liberalismo económico, a democracia e os direitos humanos) e o seu prestígio.
Os objectivos da política externa podem ser alcançados através da cooperação internacional, integração, agressão, guerra, exploração, ameaça. Estes instrumentos são usados consoante as conjunturas interna e internacional, bem como o retro -alimentação de outros Estados à política externa de um certo Estado. Isto acontece porque a política externa resulta, acima de tudo, do processo decisório interno que a racionalidade do Estado enquanto actor primário e único muitas vezes não consegue ultrapassar porque outros actores como grupos de pressão, líderes de opinião pública internos, partidos políticos na oposição, as Organizações não governamentais exercem um papel impedidor bastante profundo para a execução de tal política. Por outro lado, a situação político-militar, económico-financeira, sócio - cultural é determinante para o avanço ou recuo na prática de uma política externa. Retrospectiva da política Externa dos Estados unidos da América A história da política externa dos Estados Unidos caracteriza-se por três pilares: isolacionaismo, internacionalismo e intervencionismo. O isolacionismo caracteriza-se por abstenção, neutralidade ou isolamento nos assuntos externo e concentração nos assuntos domésticos. Os Estados Unidos, desde a sua criação primaram por esta política, até ao período anterior à Primeira Guerra Mundial, concretamente antes do ataque alemão aos submarinos norte-americanos no Oceano Atlântico em 1917 e ressurgiu, de forma oscilante, nos períodos 1919-40 e 1967-86. O internacionalismo vigorou nos períodos de 1945 -1967 (intercalado por intervenções indirectas) e de 1995 -2000. Durante estes períodos os Estados Unidos engajaram-se na cooperação internacional, tomando protagonismo na criação de instituições multilaterais tais como a Organização das Nações Unidas, o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e a Organização Mundial do Comércio. O intervencionismo foi mais evidente nos períodos 1990/91 – 1995 e 2001 – 2008. O intervencionismo que também se pode chamar de unilateralismo caracterizou-se por invasões sem ou com a aprovação das Nações Unidas. Esta continua a linha dos Estados Unidos da América na actualidade, legado da Administração Bush, que a Administração Obama vai procurar corrigir. De referir que Em primeira instância, ao modificar as metas da política externa, o principal problema enfrentado pelos líderes dos EUA tem sido conciliar as vantagens e desvantagens do isolacionismo e internacionalismo [bem como o intervencionismo]. Em certas alturas, líderes americanos e a opinião pública têm procurado a retirada dos EUA de assuntos internacionais (…) a fim de isolar o país dos perigos da dependência internacional e guerras estrangeiras. [Mas], em outras ocasiões, a política externa americana tem colocado no sentido oposto, em direcção a uma participação activa com outras nações [ou unilateralmente], as questões de momento, [isto é, da conjuntura internacional em vigor][ii]. Actual conjuntura internacional e a política externa de Barack Obama Os Estados Unidos se inserem num mundo que mudou radicalmente, desde o fim da Guerra-fria. Por mais de 40 anos, os Estados Unidos e a União Soviética eram as principais potências rivais, na política externa e nos assuntos internacionais. Assim, a política externa e as relações internacionais dos EUA giravam amplamente em torno desta intensa rivalidade. Actualmente a União Soviética eclipsou, mas o seu herdeiro legítimo – a Rússia está a erguer-se como uma potência com quem o mundo deve contar na abordagem dos assuntos globais. Nesta conjuntura, não existem entendimentos comuns entre os americanos sobre o papel que os EUA deverão desempenhar no sistema internacional, embora existam menos constrangimentos externos contra a projecção de poder dos EUA no estrangeiro do que em qualquer momento desde os anos imediatamente após a II Guerra Mundial. Por outro lado o sistema internacional caracteriza-se por uma série de ameaças e vulnerabilidades[iii] tais como: 1.Ambientais: (a)mudança climática – aquecimento da atmosfera, aumento do nível das águas oceânicas (que provoca as actuais controvérsias sobre as responsabilidades pela ocorrência desses fenómenos e pelos custos para sua prevenção ou atenuamento); (b) escassez e deterioração das reservas de água doce (que causa tensões em várias partes do mundo, inclusive quanto ao aproveitamento do Rio Jordão, no Oriente Médio e em grande parte da África), (c) desmatamento e redução da biodiversidade (amazónia e Congo); (d) redução dos stocks pesqueiros (tema de interesse global e que tem ocasionado variadas questões, como na costa do Canadá e, potencialmente, na Namíbia); (e) quantidade e qualidade dos alimentos (que se correlaciona com aspectos de defesa sanitária, com formas de proteccionismo comercial e, pelo ângulo da escassez potencial, com as perspectivas de crescimento demográfico mundial); (f) esgotamento e redução das jazidas de petróleo (de evidente interesse económico e estratégico) (g) contaminação nuclear (inclusive actividades pacíficas). 2. Demográficas: (a) crescimento da população mundial (a China em 2020 terá 1,6 milhões de pessoas, um crescimento de 33%). 3.Sanitárias: (a) fome (tema antigo mas que toma novas cores); (b) novos e resistentes vírus (que contagiam o homem em razão da destruição ambiental que os desaloja de seus habitats naturais, bem como o HIV que causa sida); (c) doenças ocupacionais (derivadas do estilo de vida abundante e de trabalho em condições de tensão psicológica). 4. Sociais: (a) controle dos cidadãos pelo Estado e dos consumidores pelas empresas (via propaganda e técnicas de marketing); (b) subemprego, desemprego e pobreza (temas antigos que ganham redobrada importância, tendo em vista os novos riscos económicos e a revolução de mentalidades em curso no mundo todo); (c) urbanização acelerada/inchaço das cidades/ abandono do campo. 5. Criminais: (a) narcotráfico; (b) lavagem de dinheiro; (c) contrabando de armas; (d) rime organizado; (d) corrupção; (e) terrorismo. 6. Tecnológicas: (a) manutenção de stocks de armas nucleares (se, agora, o terror nuclear se encontra mitigado, as armas nucleares permanecem sem dúvida presentes na cena mundial e em quantidade e qualidade superiores aos arsenais de 1968, quando foi assinado o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares; (b) incidentes químicos, biológicos e com irradiação nuclear; (c) demonstração nuclear (Coreia do Norte, Índia, Paquistão e Irão?); (d) armas convencionais sofisticadas, como as chamadas munições inteligentes; (e) interferência eletrônica ("hackers", penetração de laboratórios nucleares, possibilidades de paralisação da vida civil, do sistema financeiro e da defesa). 7. Económicas e financeiras: (a) volatilidade dos fluxos de capitais de curto prazo; (b) instabilidade económica; (c) distribuição injusta de renda; (d) proteccionismo comercial e dumping. 8. Políticas: (a) emergência de variados tipos de fundamentalismo; (b) dificuldades para o fortalecimento da democracia onde existe esta, e para sua universalização (c) conflitos armados internos (com destaque para Sudão – Darfur, Somália, Tchad, República Democrática do Congo, República Centro Africana, Colômbia, Sri Lanka) e (d) Inter-estatais (Israel- Palestina?[iv], Índia – Paquistão, Etiópia – Eritreia, RDCongo – Ruanda, Sudão – Tchad, o Cáucaso). Nesta conjuntura os EUA ocupam uma posição hegemónica. Deste modo, tem uma obrigação de se lidar com todos esses assuntos directa ou indirectamente. A Administração Obama será avaliada, na política externa, pela habilidade com que vai lidar com esta matéria, sobretudo os resultados que vai alcançar e no plano interno New Deal que implementar para superar os problemas socio-económicos do país.
Administração Obama e a Perspectiva da Política Externa Norte-americana
Barack Hussein Obama terá imensas dificuldades na condução da política externa dos Estados Unidos[v].
A primeira dificuldade que Obama enfrentará é em relação ao Médio Oriente. Para além do histórico conflito Israel – palestiniano, tem a questão do Iraque e do Irão. Se a questão do Irão parece manuseável em termos diplomáticos (basta a crença dos EUA de que o programa nuclear iraniano tem fins pacíficos) e não implique o desgaste imediato da figura do Obama e da reputação da América, o Iraque é uma carta determinante para a recuperação do prestígio americano a nível global. A promessa de retirada do Iraque não parece tão fácil e imediata quanto apregoa o presidente Obama. Tem em sua volta uma série de consequências, dentre as quais a eclosão/recrudescimento de uma guerra civil entre as seitas iraquianas já em “degladiamento”. O único facto certo é ele quem tem de resolver o problema iraquiano e retirar as tropas daquele país. Para tal é necessário entender as razões que levaram a Administração Bush a invadir o Iraque.
Na Ásia, em geral acredita-se que Obama vai fortificar as relações comerciais com a China, o Japão, os Tigres Asiáticos e com a Índia, mas hesitará qualquer aprofundamento das relações políticas com a Índia e com o Paquistão. Quanto ao Afeganistão ele próprio declarou publicamente e de forma repetitiva que não haveria uma mudança retrógrada, senão o reforço da presença norte-americana naquele país.
Com a Europa, é possível que a Administração Obama venha aprofundar as relações comerciais com a União Europeia e melhorar as relações políticas e diplomáticas com a Rússia. Mas, o processo da expansão da NATO conhecerá um abrandamento a custa da aproximação com a Rússia. Em adição, poder-se-á discutir e provavelmente alcançar entendimentos no concernente aos assuntos do Tratado de Kyoto e da Ronda de Doha sobre a liberalização mundial do comércio, assuntos que dividiram a Europa e os EUA durante a Administração Bush.
O continente africano não espera muito da Administração Obama. O continente africano foi um dos mais privilegiados pela Administração Bush, sobretudo no combate ao HIV/SIDA e no financiamento de projectos de desenvolvimento, no âmbito dos programas Emergency Plan for AIDS Relief e Millenium Goals Challenge Account. Entretanto, persiste a dúvida sobre a continuidade destes programas pela a futura administração. Repare-se que poucas vezes se não nenhuma vez Barack Obama falou de África como prioridade. As razões podem ser óbvias (evitar conotações de favoritismo, por ser afro-americano). Mas não há garantia de que este receio não vai prevalecer durante a sua governação.
Em relação aos conflitos em Darfur e na Somália, no Tchad e na República Centro-Africana, para além da República Democrática do Congo, o cenário é sombrio. Bush envidou enormes esforços para resolvê-los, pelo que não se acredita que Obama venha fazer mais do que o Bush fez, em parte pelas mesmas razões acima indicadas e por falta de vontade politica das partes destes conflitos, bem como dos apoiantes logístico - financeiros.
A prioridade de Obama parece ser, segundo declarou várias vezes em seus discursos, a América Latina. Não temos razões específicas para tal. Todavia, sabemos que pretende levantar o embargo a Cuba que dura há mais de 50 anos, melhorar as relações políticas com a Venezuela e outros Estados da região, para além de resolver a questão que muito preocupa aos latino-americanos – a questão da emigração. Considerações finais A política externa dos Estados Unidos sob Administração de Barack Obama caracterizar-se-á por posturas avançadas e retrógradas. O realismo político norte-americano caracterizado pelo intervencionismo da Doutrina Bush render-se-á ao internacionalismo virado para a recuperação do prestígio internacional e acanhado pelos problemas sócio – económicos internos, com destaque para a crise que abala o país e o mundo.
Para que tal seja possível e que os sinais de mudança sejam visíveis será necessário trabalhar arduamente para fechar a Prisão de Guantánamo, acabar com a tortura e as prisões clandestinas no exterior, bem como anular as dívidas dos países mais pobres e adoptar conceito de "comércio justo", no quadro da Organização Mundial do Comércio.
Finalmente, deve-se evitar em todos círculos de análise, os seguintes equívocos: a crença em que a simples eleição de Obama dará início a uma nova era e o fatalismo de pensar que ele governará obrigatoriamente de acordo com as mesmas velhas práticas. Alguma coisa irá mudar, mas no concernente ao combate ao terrorismo e ao Conflito Israel - Palestiniano, “ a América continuará sempre Ámerica”[vi]. Referências
[i] Dictionary online: foreign policy, disponível em:http://www.answers.com/topic/foreign-policy, acesso em 05.11.2008 [ii] Ibidem [iii] Sardenberg, Ronaldo Mota (1998). Segurança Global: Nações Unidas e Novas Vulnerabilidades. Artigo apresentado no Seminário “Brasil e as Novas Dimensões da Segurança Internacional”, realizado pelo IEA em 11 de Setembro. Disponível em: http://www.iea.usp.br/iea/textos/sardenbergsegurancaglobal.pdf. acesso em 05.11.2008. [iv] Há dificuldades de classificação deste conflito como interou intra estatal. [v] Carlen, Laura ( 2008). Barack Obama e a América Latina: in Le Monde Diplomatique – Brasil, Edição de 09/09/2008. [vi] Obama, Barack Hussein, no discurso após a vitória eleitoral sobre John MacCain, RTPÁfrica. 05.11.2008, 7h15, Hora de Moçambique.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Vamos todos Votar, Mas Votar para quê, para quem e porquê?!

“Votar é um dos momentos mais marcantes da tua vida: como uma data de aniversário, dia de graduação, etc, etc” – assim diz um sport radiofónico. Pura indignação! Votar não nada disto. Votar poderia até ser tão importante como o são muitas das datas festivas, mas infelizmente não é. Temos vindo a testemunhar a tristeza deste sistema votocrático a que nós apelidamos de democracia. “Votar sim, faça chuva, faça sol”. Mas votar o quê e a quem? Na década de 30 o voto colocou no poder um Nazista chamado Adolfo Hitler e a consequência foi uma das guerras mais mortíferas que a humanidade conheceu – a II Guerra Mundial; alguns ditadores famosos da Historia sobreviviam de eleições: Somoza em Nicarágua, Getúlio Vargas no Brasil, Robert Mugabe no Zimbabwe, George Bush nos Estados Unidos da América, Saddam Hussein Tikrit no Iraque, entre outros. Estes líderes e outros que não mencionamos fizeram sofrer o seu povo por meio do voto. Logo, votar não é festa. O derrame de sangue no Quénia e os recentes e sucessivos acontecimentos no Zimbabwe, as manifestações violentas no Malawi em 2004 e na Zâmbia em 2006, os frequentes atentados à bomba na Swazilândia (2001/2008), mostram claramente que as eleições constituem um combustível altamente inflamável para a afirmação de violência, num Estado fraco como o nosso. “Votar sim, faça chuva, faça sol”. Mas votar o quê, a quem e porquê? Em princípio deveríamos votar em Programas ditos manifestos eleitorais e não em candidatos como sempre o fazemos. Por sua vez os Programas deveriam eleger o seu proponente. Ora vejamos: votar no programa significaria que nós concordamos com as propostas que os partidos trazem e acreditamos que são exequíveis depois de feita a análise FOFOA (forças, fraquezas, oportunidades e ameaças). Para o efeito, todos programas deveriam ser socializados antes do período da campanha para o seu melhoramento e de seguida submetidos a um Centro de Estudos (centro de analises), de preferência numa Universidade, para sua avaliação. Depois disso, sofreriam alterações mediante as recomendações do tal Centro. Feito a correcção, os candidatos cujo programa fosse aprovado passariam a defender o programa durante a campanha eleitoral, que não seria inferior a três meses antes da data das eleições. Seria cansativo e financeiramente pesado, mas é aí onde descobriríamos que em Moçambique só precisamos, no máximo três partidos políticos e mínimo e aceitavelmente Dois. Apenas assim teríamos alternativa na governação do país. Infelizmente continuamos a votar nos Partido Políticos e não nos programas. Ou por outro, votamos em pessoas e não em propostas que elas apresentam. Este comportamento concorre para inacção ou continuidade de inacção, incompetência, falta de iniciativa, fundamentados em patrimonialismo, corrupção, deixa-correr, burocratismo e outros ismos que conhecemos. São estes comportamentos que nós levam a votar nos especialistas em lixologia, buracologia, venda de terrenos ao pessoal do partido, amigos e familiares, deixando de lado os que verdadeiramente querem servir o Povo a exemplo de Eneas Comiche, Daviz Simango, Cesar de Carvalho, entre outros. Em vez de pensarmos em festa, devemos pensar em que votar, a quem votar e porquê votar. Em adição, votar não deve significar sacrifício desnecessário, isto é, não devemos ir passar o dia na formatura para votar em detrimento de vendemos na Rua, no Mercado ou ir a machamba para o sustento das nossas famílias, pois morreremos de fome, de chuva e de sol, enquanto aqueles em quem votamos estão em Palácios e Mansões de Luxo, sofrem de doenças de opulência e fartura como a obesidade e nós morremos de fome e dormimos ao relento.
Portanto, votar sim, mas com racionalidade e razões para votar. Votar é apenas festa para as famílias e amigos dos candidatos e não para o cidadão que vivem duvidando permanentemente sobre o que comer no dia seguinte de tanto não ter nada para comer. Os familiares e amigos, inclusivamente membros destacados dos partidos devem ir votar, “faça chuva, faça sol”, pois é disso que escolhem casas para dormir, comida para comer, telefone para usar, país para visitar, hotel para hospedar, terreno para construir, carro para usar...

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

O Comiche, os Simangos, e o Pereira: A irracionalidade das “ Eleições e Democracias Internas”

“Candidatura às autarquias: Derrota de Comiche não é nada de anormal - defende Presidente da Frelimo. O PARTIDO Frelimo considera que a derrota de Eneas Comiche nas eleições internas realizadas semana passada no Comité da Cidade de Maputo para a indicação do seu candidato ao cargo do Presidente do Conselho Municipal não tem nada de anormal, pois trata-se de um exercício democrático previsto nas directivas desta formação política”. Maputo, Sexta-Feira, 29 de Agosto de 2008:: Notícias É assim que nos blindou o presidente da Frelimo e, cumulativamente, presidente da República de Moçambique, Armando Emílio Guebuza. Concordamos sim que para quem votou e soube porquê e para quem votou no “ vitorioso” David Simango não é anormal.
Para nós, cidadãos pacatos, politicamente inocentes e vítimas eternos do silêncio do poder, sem direito de voto nas “democracias, eleições e votocracias internas” é muito anormal. O Eneas Comiche é um dirigente político de que devíamos todos nos orgulhar por razões que abaixo indicamos:
1. Foi o primeiro dirigente aos destinos da cidade de Maputo a vencer o seu egoísmo e sua sede de dinheiro em benefício da maioria – os munícipes;
2. Venceu e convenceu os que acreditavam que as estradas da cidade de Maputo e os Esgotos da baixa de cidade não poderiam jamais conhecer uma reabilitação;
3. Denunciou publicamente tentativas de usurpação do seu poder pela governadora da cidade de Maputo, pois conhecia bem as fronteiras da sua autoridade;
4. Denunciou e cancelou concessões de lugares históricos, cujos dinheiros beneficiavam as elites políticas desta grande cidade chamada Maputo, como é o exemplo das antigas instalações da Wenela, na voluptuosa Av. Julius Nyerere;
5. Negou conceder património do Estado aos seus camaradas “ Eleitores”, aqueles que têm e que se dizem dirigentes máximos do partido, privilegiando a reabilitação e a construção de obras sociais; 6. Trocou interesses individuais dos camaradas com a reabilitação de obras sociais, como os jardins, as estradas, a electrificação e o combate contra a erosão costeira.
7. Introduziu novo estilo de governação – governação baseada nas convicções pessoais, pragmatismo e objectivos estratégicos orientados para o desenvolvimento da cidade, abandonando a governação fundamentada em cor partidária, ideologia do partido e camaradagem.
8. Não “comeu” com os seus chefes directos?
9. Constitui ameaça para o presidente do partido para as próximas presidenciais? 10. Optou por tecnocracia, deixando de lado a confiança política, o nepotismo e o clientelismo de camaradagem;
Testemunhamos uma verdadeira irracionalidade política e a ditadura de voto que, a ser em países onde a oposição se faz sentir e onde a votação funciona livremente sem fantasmas de fraudes, a vitória ia para a Renamo ou para um Comiche independente, se este optasse por esta via. Mas como tal cenário é impensável a curto prazo na nossa piscina política, teremos que conviver com um Simango da Frelimo a governar ao bel-prazer dos seus camaradas e a cumprir pontual e integralmente as ordens superiores.
Não concordamos com o presidente da Frelimo quando diz ao Notícias que “a Frelimo reconhece o trabalho positivo realizado por Comiche, o que ainda vai fazer, o que ele é capaz de fazer. Todavia, no (…) partido [Frelimo] as normas orientam que a eleição para lugares de chefia obedece a um processo eleitoral, da base ao topo”. (sublinhado nosso).
Este é um pronunciamento extremamente contraditório e infundado, para além de ser falacioso. Contraditório porque, como bem diz o adágio popular desportivo, “ a equipa que ganha não se muda”. Como é que alguém a quem se lhe reconhece “ (…) as suas qualidades e capacidades”, vai ser ou foi submetido cirurgia política chamada “ democracia” ou “eleição interna”, até conhecer a sua paralisia política? Em adição, é infundado porque não vemos as razões de facto que detonaram o futuro político de Comiche enquanto presidente do Grande Maputo, deixando os presidentes absolutistas que concorrem para terceiros mandatos, mas sem nada a fazer, como é o caso de Pio Matos em Quelimane e Sulemane Amugy em Vilanculos.
Por outro lado, é falacioso porque não constitui a verdade que no (…) partido [Frelimo] as normas orientam que a eleição para lugares de chefia obedece a um processo eleitoral, da base ao topo”, se o diz, então a orientação não é cumprida. Vamos argumentar. Pensamos e julgamos convincente que a base a que se refere é a população em geral e neste caso, os munícipes e não aqueles que lá estavam a degolar o Dr. Comiche, para a festa de Simango, no banquete de 19 de Novembro.
Constituiria verdade se nos dissessem que a eleição é feita e foi feita de TOPO para a BASE, pois o que vimos foi uma eleição vertical, feita pelos membros da Comissão Política, Membros do Governo, governadores, administradores, VIP do partido e os ditos secretários dos Bairros, contrariando a lógica do sufrágio universal directo. Nós, membros e simpatizantes do partido Frelimo, fomos pura e simplesmente relegados ao centésimo plano e somos agora obrigados a apoiar a uma candidato que não escolhemos e nem apoiamos, por vermos que este Candidato, se comparado com Comiche, é fracasso condenado ao fracasso.
Perante este facto, não nos vamos surpreender com um elevado índice de abstenções nas próximas autárquicas, uma vez que não adianta ir formar bicha para legitimar um candidato que vai, de antemão, frustrar todas as expectativas que Comiche, em pouco tempo, enraizou nas mentes de pacatos munícipes da cidade de Maputo.
O mesmo resvala-se para Beira, onde o Daviz Simango vai partilhar com Eneas Comiche, a taça da dor. Embora depostos em circunstancias similarmente inexplicáveis, em termos de razões, este é mais gritante ainda pelo seu carácter político imaturo. A Renamo, sem ter nem sequer utilizado a ditadura do voto e muito menos explicado, ou consultado até aos secretários ou delegados dos Bairros naquele município, depuseram o Eng.º Simango, a favor de Pereira. Se da parte da Frelimo vimos o seu presidente a tentar minimizar o impacto do afastamento de Comiche, da parte da Renamo o seu presidente ficou boquiaberto. De igual modo se tenta dizer que o Golpe contra o Eng.º. Simango resultou da pressão das bases e não do topo. Que outro grande sacrilégio! Diga-nos sim que o Pereira e outros membros ambiciosos da Renamo e amigos do indeciso, inconsequente Presidente é que orquestraram o golpe, pois as manifestações populares na Beira vieram mostrar que a Base pressionou sim a favor de Daviz Simango e não o contrário. Para nós, seria muito maduro, transparente e verdadeiro, se as sinfonias dos porta-vozes anunciassem a mensagem da verdadeira razão da queda do Simango – o facto de ser membro do Partido da Convenção Nacional (PCN).
A consequência do afastamento de Simango na Beira, para além da abstenção dos membros de alguns membros da Renamo, será a derrota humilhante de Manuel Pereira a favor da Frelimo.