“Candidatura às autarquias: Derrota de Comiche não é nada de anormal - defende Presidente da Frelimo. O PARTIDO Frelimo considera que a derrota de Eneas Comiche nas eleições internas realizadas semana passada no Comité da Cidade de Maputo para a indicação do seu candidato ao cargo do Presidente do Conselho Municipal não tem nada de anormal, pois trata-se de um exercício democrático previsto nas directivas desta formação política”.
Maputo, Sexta-Feira, 29 de Agosto de 2008:: Notícias
É assim que nos blindou o presidente da Frelimo e, cumulativamente, presidente da República de Moçambique, Armando Emílio Guebuza. Concordamos sim que para quem votou e soube porquê e para quem votou no “ vitorioso” David Simango não é anormal.
Para nós, cidadãos pacatos, politicamente inocentes e vítimas eternos do silêncio do poder, sem direito de voto nas “democracias, eleições e votocracias internas” é muito anormal. O Eneas Comiche é um dirigente político de que devíamos todos nos orgulhar por razões que abaixo indicamos:
1. Foi o primeiro dirigente aos destinos da cidade de Maputo a vencer o seu egoísmo e sua sede de dinheiro em benefício da maioria – os munícipes;
2. Venceu e convenceu os que acreditavam que as estradas da cidade de Maputo e os Esgotos da baixa de cidade não poderiam jamais conhecer uma reabilitação;
3. Denunciou publicamente tentativas de usurpação do seu poder pela governadora da cidade de Maputo, pois conhecia bem as fronteiras da sua autoridade;
4. Denunciou e cancelou concessões de lugares históricos, cujos dinheiros beneficiavam as elites políticas desta grande cidade chamada Maputo, como é o exemplo das antigas instalações da Wenela, na voluptuosa Av. Julius Nyerere;
5. Negou conceder património do Estado aos seus camaradas “ Eleitores”, aqueles que têm e que se dizem dirigentes máximos do partido, privilegiando a reabilitação e a construção de obras sociais;
6. Trocou interesses individuais dos camaradas com a reabilitação de obras sociais, como os jardins, as estradas, a electrificação e o combate contra a erosão costeira.
7. Introduziu novo estilo de governação – governação baseada nas convicções pessoais, pragmatismo e objectivos estratégicos orientados para o desenvolvimento da cidade, abandonando a governação fundamentada em cor partidária, ideologia do partido e camaradagem.
8. Não “comeu” com os seus chefes directos?
9. Constitui ameaça para o presidente do partido para as próximas presidenciais?
10. Optou por tecnocracia, deixando de lado a confiança política, o nepotismo e o clientelismo de camaradagem;
Testemunhamos uma verdadeira irracionalidade política e a ditadura de voto que, a ser em países onde a oposição se faz sentir e onde a votação funciona livremente sem fantasmas de fraudes, a vitória ia para a Renamo ou para um Comiche independente, se este optasse por esta via. Mas como tal cenário é impensável a curto prazo na nossa piscina política, teremos que conviver com um Simango da Frelimo a governar ao bel-prazer dos seus camaradas e a cumprir pontual e integralmente as ordens superiores.
Não concordamos com o presidente da Frelimo quando diz ao Notícias que “a Frelimo reconhece o trabalho positivo realizado por Comiche, o que ainda vai fazer, o que ele é capaz de fazer. Todavia, no (…) partido [Frelimo] as normas orientam que a eleição para lugares de chefia obedece a um processo eleitoral, da base ao topo”. (sublinhado nosso).
Este é um pronunciamento extremamente contraditório e infundado, para além de ser falacioso. Contraditório porque, como bem diz o adágio popular desportivo, “ a equipa que ganha não se muda”. Como é que alguém a quem se lhe reconhece “ (…) as suas qualidades e capacidades”, vai ser ou foi submetido cirurgia política chamada “ democracia” ou “eleição interna”, até conhecer a sua paralisia política? Em adição, é infundado porque não vemos as razões de facto que detonaram o futuro político de Comiche enquanto presidente do Grande Maputo, deixando os presidentes absolutistas que concorrem para terceiros mandatos, mas sem nada a fazer, como é o caso de Pio Matos em Quelimane e Sulemane Amugy em Vilanculos.
Por outro lado, é falacioso porque não constitui a verdade que no (…) partido [Frelimo] as normas orientam que a eleição para lugares de chefia obedece a um processo eleitoral, da base ao topo”, se o diz, então a orientação não é cumprida. Vamos argumentar. Pensamos e julgamos convincente que a base a que se refere é a população em geral e neste caso, os munícipes e não aqueles que lá estavam a degolar o Dr. Comiche, para a festa de Simango, no banquete de 19 de Novembro.
Constituiria verdade se nos dissessem que a eleição é feita e foi feita de TOPO para a BASE, pois o que vimos foi uma eleição vertical, feita pelos membros da Comissão Política, Membros do Governo, governadores, administradores, VIP do partido e os ditos secretários dos Bairros, contrariando a lógica do sufrágio universal directo. Nós, membros e simpatizantes do partido Frelimo, fomos pura e simplesmente relegados ao centésimo plano e somos agora obrigados a apoiar a uma candidato que não escolhemos e nem apoiamos, por vermos que este Candidato, se comparado com Comiche, é fracasso condenado ao fracasso.
Perante este facto, não nos vamos surpreender com um elevado índice de abstenções nas próximas autárquicas, uma vez que não adianta ir formar bicha para legitimar um candidato que vai, de antemão, frustrar todas as expectativas que Comiche, em pouco tempo, enraizou nas mentes de pacatos munícipes da cidade de Maputo.
O mesmo resvala-se para Beira, onde o Daviz Simango vai partilhar com Eneas Comiche, a taça da dor. Embora depostos em circunstancias similarmente inexplicáveis, em termos de razões, este é mais gritante ainda pelo seu carácter político imaturo. A Renamo, sem ter nem sequer utilizado a ditadura do voto e muito menos explicado, ou consultado até aos secretários ou delegados dos Bairros naquele município, depuseram o Eng.º Simango, a favor de Pereira.
Se da parte da Frelimo vimos o seu presidente a tentar minimizar o impacto do afastamento de Comiche, da parte da Renamo o seu presidente ficou boquiaberto. De igual modo se tenta dizer que o Golpe contra o Eng.º. Simango resultou da pressão das bases e não do topo. Que outro grande sacrilégio! Diga-nos sim que o Pereira e outros membros ambiciosos da Renamo e amigos do indeciso, inconsequente Presidente é que orquestraram o golpe, pois as manifestações populares na Beira vieram mostrar que a Base pressionou sim a favor de Daviz Simango e não o contrário. Para nós, seria muito maduro, transparente e verdadeiro, se as sinfonias dos porta-vozes anunciassem a mensagem da verdadeira razão da queda do Simango – o facto de ser membro do Partido da Convenção Nacional (PCN).
A consequência do afastamento de Simango na Beira, para além da abstenção dos membros de alguns membros da Renamo, será a derrota humilhante de Manuel Pereira a favor da Frelimo.
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