quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Ecos do Monte Domwe II: “Em Tete - Dómuè sem água potável”

Quando alguns dizem que fizeram alguma coisa para o povo do Planalto de Angónia, eu continuo incrédulo, pois o jornal notícia me diz: "Em Tete - Dómuè sem água potável. O Posto administrativo de Dómuè, no distrito de Angónia, ao norte da província de Tete, está a atravessar uma crise de falta de abastecimento de água potável a cerca de 173 mil habitantes residentes na região, o que contribui para o surgimento de diarreias devido ao consumo de água” imprópria” (itálico meu).
Quando por Domwe passaram em busca do eleitorado ca disseram que fizeram grandes realizações. Eu lhes desafio e o jornal notícias testemunha-me: “ (…) o posto conta com uma rede constituída por 167 unidades de abastecimento de água potável distribuídas pelas comunidades, sendo na sua maioria constituída por furos acoplados a bombas manuais, número considerado bastante insignificante para atender à demanda dos habitantes daquela região, a mais povoada do distrito de Angónia” (itálico meu).
Quando escrevi que as bombas de abastecimento de água no Planalto de Angónia estavam inoperacionais, alguns fanáticos do meu partido criticaram-me, argumentando que eu não tinha a veracidade dos factos, estava equivocado e falava como um político da oposição.
Afinal os equívocos estavam com eles, pois o jornal notícias colheu dados de quem vive o dia a dia da população, refiro-me do administrador, que disse: "Do universo das fontes de abastecimento de água existentes em Dómuè, apenas estão operacionais 144 bombas e as restantes encontram-se avariadas. O principal problema é a falta de peças sobressalentes para a sua reposição em caso de avaria pois existem em todas as comunidades comités de gestão do sistema de abastecimento de água que se responsabilizam pela manutenção periódica e sistemática das fontes de abastecimento de água potável"
Quando escrevi há dias que do cume do Monte Domwe via mamanas a percorrerem longas distâncias a procura de água disseram que era uma mania de um jovem imbuído de espírito opositor. Porém, os factos provieram do administrador que concorda comigo dizendo que “ em certas regiões mais para o norte do posto e junto à fronteira com o distrito de Macanga, as populações disputam água com animais selvagens e domésticos que contribuem para o surgimento de casos de conflitos entre o Homem e fauna bravia". Mesmo com estes factos eles fizeram, eles é que fazem e eles são os que farão com que não exista água potável no Planalto de Angónia e noutras zonas rurais do país. São eles que fizeram, fazem e farão com que se morra de doenças diarreicas tal como está a acontecer em Domwe? Fonte: Jornal Notícias Maputo, Quarta-Feira, 23 de Setembro de 2009::

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Do Planalto

Vi uma multidão com bandeiras e panfletos nas passeatas do Planalto. Cantavam e dançavam os nossos cânticos tradicionais que suavemente e agradavelmente flúem os ouvidos de bom gosto. Estavam entre eles crianças, jovens, adultos e idosos. A maioria deles estava descalça, vestida de farrapos e os seus olhos emitiam um cansaço enorme. Tinham andado distâncias e distâncias a pé sem descanso. As suas vísceras estavam em processo ininterrupto de dilaceração movida pela fome incauta. Aquele povo era tão magrinho, tão magrinho, que parecia padecente de pneumonia aguda ou se parecia com as vacas magras no Corno de África. Vinham de aldeias longínquas para a vila onde o candidato presidencial daria o seu comício.
Deparei-me de seguida com um aparato do dito cujo candidato. Desceu de um dos seus tantos objectos voadores. Dos restantes discos voadores que se pareciam com helicópteros, desceram seus acompanhantes. Aquela comitiva do “presidenciável” contrastava-se abruptamente com a manada de pessoas que tinham estado ali no campo distrital há muitas horas. Eram saudavelmente gordos, com a pele macia, vestidos de camisolas da campanha eleitoral de primeira qualidade. Bebiam água mineral e estavam sentados na tribuna…claro na sombra.

Horas depois começou o candidato presidencial a lançar o seu viva viva e a população ia respondendo em uníssono. Percebia-se que a população procurava captar o que ele dizia, pois, embora não falasse a língua bela do Planalto, o interprete tudo fazia para lhe ser fiel. Ai começou ele a explanar ao pacato povo:

- Eu sou o melhor dentre os melhores. Vendi a minha juventude para salvar a pátria do jugo colonial. Fui eu quem vos dá a energia daquela barragem que agora é vossa. Construí escolas, hospitais, estradas e pontes. A comida que têm nos vossos celeiros eu é que trouxe. Eu sou quem mereço o vosso voto, a vossa confiança. Lá ia o candidato vendendo o seu peixe àquela multidão que vive de feijão e milho ou no mínimo folhas de abóbora secas, complementados com frutas silvestres.

Após a explanação do “presidenciavel” repetente, as faces dos meus compatriotas mergulharam-se em banho de lágrimas. O povo que acreditava que ia lá ouvir daquele candidato promessas bem luxuosas, saiu de lá desiludido. Do princípio até ao fim do comício, sou recebeu relatório que já tinha recebido há bem pouco tempo quando o ora candidato tinha passado por lá na qualidade de Pulezidenti.

Ao contrário do que o indubitável vencedor disse, o povo do Planalto esperava ouvir, por exemplo, que “irei asfaltar a estrada que liga Vila Ulònguè à Tsangano passando por mtengo wa Mbalame e de Mtengo wa Mbalame ao Posto Fronteiriço de Biriwiri. Vou igualmente asfaltar a estrada que liga Vila Ulónguè à Furancungo, em Macanga. Vou construir hospitais rurais em Furancungo e Tsangano...” Porém para decepção do povo do Planalto, aquele recolheu a sua comitiva, meteram-se nos helicópteros com bandeira sulafricana e se foram. Acredito que apenas voltará para lá em 2014 para ir pedir ou carimbo para o banquete da ponta vermelha.

Quanto ao povo, continuará daquela mesma forma até que um dia tome consciência de que o seu voto vale mais que simples show off de helicópteros sulafricanos e uma camisola de última qualidade, ostentando a cara do “presidenciável”. Até 2014 Sr. Candidato. Conte sempre connosco, pois somos analfabetos e, porquanto, temos a consciência de que para nós basta exibir helicópteros, o voto está garantido. Isso mesmo, temos consciência de que vamos continuar a percorrer distâncias e distâncias a pé enquanto as estradas acima mencionadas não constarem na vossa agenda de governação.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

O Pais online

Filiação partidária não pode ser motivo de inimizade" Sábado, 19 Setembro 2009 16:01 Redacção
"Podemos ter pontos de vista ou opções políticas diferentes, mas não deixamos de ser moçambicanos..." O candidato da Frelimo às eleições presidenciais, Armando Guebuza, que terão lugar em Moçambique no dia 28 de Outubro próximo em simultâneo com as parlamentares e para as assembleias provinciais, disse que a filiação partidária dos cidadãos do país em partidos diferentes não os pode levar a se encararem como inimigos, muito menos a lutarem entre eles, porque isso minaria o que é fundamental para todos eles, que é a sua unidade que os faz com que sejam um povo uno e indivisível.
Intervindo na localidade de Chamba, no distrito de Mutarara, em Tete, no quadro da campanha eleitoral que tem vindo a levar a cabo visando assegurar a sua reeleição para o cargo de Chefe de Estado de Moçambique que ocupa desde 2005, Guebuza disse que quando alguém opta por um certo partido diferente daquele que outros possampreferir não o faz com que deixe de ser cidadão de um mesmo e único pais.
'Todos eles continuam moçambicanos, não obstante tenham opções partidárias diferentes, ou tenham pontos de vista divergentes sobre um mesmo assunto', vincou Guebuza, antes de destacar que a tendência de optar por uma certa formação política nunca pode levar os moçambicanos a se encararem como inimigos e muito menos a seconfrontarem, tal como já aconteceu no passado como agora nesta campanha em que tem ocorrido alguns confrontos entre apoiantes de uns e outros partidos.
Guebuza vincou que essa tendência deve ser travada a todo o custo, reiterando que não há nada que pode justificar que os moçambicanos voltem a se guerrear, muito menos quando o pomo da discórdia é a filiação partidária que cada um prefere.
'Podemos ter pontos de vista ou opções políticas diferentes, mas não deixamos de ser moçambicanos e de pertencermos ao mesmo pais. Mesmo numa família, pode haver pontos de vista diferentes, mas não deixa de ser uma mesma familia', disse para evidenciar a sua tese.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

CAMPANHA ELEITORAL

Decorre em todo o território nacional a campanha eleitoral. Partidos políticos e coligações tudo (?) fazem para conquistar o voto, uns melhores que outros em termos de organização. Não se pretende aqui procurar vasculhar organogramas de partidos nem os seus cofres, embora, na verdade, a organização e o dinheiro sejam factores determinantes para uma vitória eleitoral. O presente texto tem como coluna vertebral as promessas eleitorais.
Todos partidos, aliás os quatro partidos de facto existentes, nomeadamente: o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), a Resistência Nacional de Moçambique (RENAMO) e o Partido para a Paz, Democracia e Desenvolvimento (PDD) lançam as suas promessas sobre o futuro melhor. As entranhas de tais promessas estão intoxicadas de ambiguidades gritantes. Enquanto alguns socorrem-se do passado para prometer o futuro, não conseguem explicar o presente. Não conseguem nos dizer, por exemplo, as razões de falta de habitação para a juventude hoje e como colmatará a situação nos próximos cinco anos; não explicam porquê um jovem recém-graduado tem que ostentar um currículo que lhe confere pelo menos cinco anos de experiência na sua primeira candidatura ao emprego. Outros evangelizam o futuro brilhante para a camada juvenil actual, mas na letra não se diferem daqueles que nada fazem neste matéria. Todas as promessas são iguais e ninguém se dedica à explicação de como cumprirá tais promessas.
Como não bastasse, todas promessas são genéricas. Prometem construir habitações, escolas, hospitais, estradas, pontes e outras unidades sociais. Porém, não quantificam. Não dizem quantas casas serão construídas até ao fim do mandato; não se preocupam com declarações de quantas escolas, estradas, pontes e quantos hospitais serão erguidos até 2014. Esta é uma acrobacia política para confundir o povo, pois, sem indicadores quantitativos este não terá como cobrar resultados. O risco disso é, o partido ganhador que formará o governo, vir a declarar uma escola, um posto de saúde, uma estrada e uma ponte, construídos durante cinco anos. Quem exigirá mais se eles não quantificaram?
Em adição, não há debates políticos sérios sobre a economia, a sociedade e a segurança interna e externa. Assuntos do género estão a ser substituídos por troca de acusações, auto – bajulação e corrida desenfreada ao bolo eleitoral. Por exemplo, não parece prudente colocar Cahora Bassa, Ponte sobre o Zambeze Caia-Chimwara ou reabilitação tremida da Estrada Nacional Nº1 na agenda eleitoral. De facto, estas obras são importantes para o desenvolvimento do país, mas poderia ter constituído matéria eleitoral em 2004. O Povo não deve viver de história. A proclamação de tais acções só atrapalha a atenção do eleitorado interessado em mudar o rumo dos acontecimentos.
É preciso haver promessas concretas e quantificadas. É tarefa da juventude deve militar na exigência de promessas claras, nem que seja necessário recorrer a manifestações generalizadas! Lembrem-se: os jovens derrubaram o colonialismo em Moçambique; os jovens criaram cisma no Congresso Nacional Africano, resultando na queda precipitada do Presidente Thabo Mbeki na África do Sul. O que falta para haver uma juventude militante e revolucionaria em Moçambique?

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

EXORTAÇÃO

Sabeis que, daqui a dois dias, celebrar-se-á a Páscoa; e o Filho do Homem será entregue para ser crucificado.” (Mateus 26.2).
Inclina a sua cabeça e entoe o hino do glorioso partido. É no partido vermelho onde se come, se bebe e se dorme. Pensar é proibido. O partidao é uma ceita religiosa em que os estatutos do partido são a escritura sagrada. Quem tentar reflectir e pensar diferente é imediatamente amputado socialmente: não apanha emprego, não estuda; se estuda não passa; se trabalha não é promovido; se for promovido é transferido para zonas recônditas; sim, lá no cemitério dos conceitos de água potável, luz, vias acesso; lá onde a noção de Internet e telefone ainda é a terra prometida pelo Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob; lá onde viver é sinónimo de morrer. E para o calvário te pesar mais é te atribuído nomes diversos, desde os de traidor, corrupto, até ao pedófilo se for professor ou necrofilia se for médico ou enfermeiro e ainda, vendedor da pátria, se for comerciante.
Declina-te perante dragão de sete cabeças se não queres ser atirado ao fogo de enxofre pelo anjo Gabriel furioso e profundamente magoado pelo teu pecado de pensar diferente. Isso mesmo, pecado de pensar que podes muito bem trazer o Novo Testamento da Democracia chamado Constituição da República para uma Terra Santa do Islão cognominado Frelimolândia. Todos aqueles que tentam opor-se contra o regime são julgados pela Xaria.
Todos cidadãos de outras nacionalidades são xenófobamente expurgados e queimados vivos num campo de concentração conhecido por marginalização. Refiro-me dos cidadãos provenientes da Renamolândia, Emideemilândia, Pimolândia, Pededelândia, entre outros. Os seus líderes são politicamente guilhotinados. Nesta pátria é incinerado, física, moral, social, cultural e politicamente todo aquele que pensa diferente. Por exemplo, à parelha do Eduardo Mondlane, Lázaro Kkavandame, Urias Simango, Samora Machel, Carlos Cardoso, e Sibasiba Macuácua que bateram bota pelo imperativo de pensar diferente, outros como Daviz Simango, Raúl Domingos, Yacub Sibindy estão encarcerados na cadeia de máxima segurança: a Cadeia Nacional Estratégia (CNE).
Ergue a cabeça e procura um exílio se te achas um ser pensante. Se te consideras académico, alia-se ao grande partido. Pelo contrário, não encontrarás espaço para contribuíres para o desenvolvimento dessa pátria como aconteceu com o perecido Dr. David Aloni. Os teus artigos, contenham o que contiverem, nunca serão publicados nos jornais da praça porque todos eles são comandados superiormente pelo Conselho Superior de Comunicação Social denominado Comité Central ou Santa Sé. Os seus livros serão queimados pela Santa Sé e você será vítima de inquisição, acusado de Heresia.
És empreendedor? Veste-te de vermelho, decorado de enxada e maçaroca. Assim não morrerás de fome e as tuas empresas não entrarão em falência. Mesmo falindo todas, continuarás a comer porque serás Presidente do Conselho de Administração de alguma empresa nem que seja de criação das aves menos procuradas e mais estranhadas de patas feias e pouco higiénicas.
Alia-te ao partido dominante. É ele que fez a pátria nascer, é ele que faz tudo quanto temos assistido: a corrupção, o burocratismo, o deixa-correr, eliminação dos adversários políticos e implantação de um regime monolítico, monótono e monopartidário, déspota…enfim, mata a democracia tida como único sistema político possível num sistema internacional difuso em que vivemos actualmente.
Por isso, reitero: inclina a sua cabeça e entoe o hino do glorioso partido. É no partido vermelho onde se come, se bebe e se dorme. Pensar é proibido. O partidao é uma ceita religiosa em que os estatutos do partido são a escritura sagrada.